O documento 53 da EMBRAPA Sistema Simplificado para Melhoria da Qualidade da Água Consumida nas Comunidades Rurais do Semi-Árido do Brasil         

 

ISSN 1516-4691

Junho, 2006

 

Pinto, Nayara de Oliveira

Sistema simplificado para melhoria da qualidade da água consumida nas comunidades rurais do semi-árido do Brasil / Nayara de O. Pinto e Luiz Carlos Hermes. – Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2006. 47p. – (Embrapa Meio Ambiente. Documentos; 53)

 

Filtração Lenta de Areia

        Segundo Paterniani & Roston (2003), a filtração lenta destaca-se por ser um sistema que não requer o uso de coagulantes ou de outro produto químico, é de simples construção, operação e manutenção, não requer mão de obra qualificada para sua operação, produz águas com características menos corrosivas e apresenta custos geralmente acessíveis a pequenas comunidades, principalmente de países em desenvolvimento, além de ser um dos processos de tratamento de águas de abastecimento que produz menos quantidade de lodo e esse lodo pode ser utilizado na agricultura e na piscicultura. Dentre as variantes dos filtros lentos podem-se citar os filtros lentos de fluxo descendente ou convencionais, os filtros lentos de fluxo ascendente, e os filtros lentos dinâmicos, este em geral utilizado como uma etapa da filtração em múltipla etapa antecedendo os pré-filtros, que por sua vez antecedem os filtros lentos (MURTHA & HELLER, 2003).

        Conforme o mesmo autor, no processo de filtração lenta, a água passa lentamente pelas camadas de areia. Para o filtro ter um bom funcionamento, não pode haver mudanças repentinas na vazão e a água não pode estar com uma turbidez muito alta, ou o filtro irá rapidamente começar a entupir. O principal fator limitante da filtração lenta é a limpeza dos filtros após o funcionamento, normalmente realizada através da raspagem da camada superior de areia (aproximadamente 5cm), lavagem e recolocação (PATERNIANI & ROSTON, 2003). Paterniani (1991), realizou intensos estudos propondo a utilização de mantas sintéticas não tecidas no topo do leito em areia, como forma de facilitar a limpeza dos filtros lentos. A remoção de turbidez ocorre predominantemente nos 10 cm iniciais do leito filtrante, onde se concentram os mecanismos de retenção de sólidos em suspensão. A variação da cor aparente em relação a profundidade do leito filtrante, apresenta um decaimento rápido de seus valores até os 15 cm iniciais do leito filtrante (MURTHA & HELLER, 2003). Segundo Murtha et al. (1997), a cor verdadeira não é bem removida pela filtração lenta, apresentando um patamar típico de remoção nos principais experimentos, em torno de 25%. Os coliformes são geralmente removidos no topo da primeira camada filtrante de areia, onde uma camada biológica (chamada “schmutzdecke”) é formada. Os coliformes que passam pela camada são mortos por outros microorganismos presentes na mesma, ou são presos pelas partículas da areia e também acabam morrendo. A camada leva um tempo para se tornar ativa, assim, a água poluída deve passar por pelo menos uma semana no filtro novo, antes desse funcionar eficientemente. Quando é feita a limpeza do filtro, demora alguns dias para a camada biológica se formar novamente (WELL, 2004). A filtração tem sido apontada como mais efetivo meio para a eliminação de cistos e oocistos do que o tratamento convencional. A remoção de cistos de giárdia pela filtração lenta é bastante elevada, 99,99% de remoção (MURTHA ET al., 1997). A Tabela 4 a seguir, mostra a eficiência da filtração lenta de areia e a Figura 9 é uma ilustração de um filtro lento de areia simples já utilizado em algumas regiões do semi-árido brasileiro, no trabalho realizado pelo Instituto Regional da Pequena

Agropecuária Apropriada (IRPAA). 23

 

Sistema Simplificado para Melhoria da Qualidade da Água Consumida

nas Comunidades Rurais do Semi-Árido do Brasil

Tabela 4. Eficiência da filtração lenta.

 

 

Nayara de Oliveira Pinto

Bolsista, Embrapa Meio Ambiente, Rodovia SP 340 -

Km 127,5 - 13.820-000, Jaguariúna, SP.

E-mail: nayaraop@yahoo.com.br

Luiz Carlos Hermes

Farmacêutico-Bioquímico, Mestre em Energia Nuclear na

Agricultura, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente,

Rodovia SP 340 - Km 127,5 - 13.820-000,

Jaguariúna, SP.

E-mail: hermes@cnpma.embrapa.br

 

Eficiência da filtração lenta.


 

Parâmetro                                       Performace de filtro lento

                                                           Efeito de filtro lento

 Cor                                                  Redução de 30 – 100%

Turbidez                                         Redução para ‹ 1 NTU

Coliformes fecais                          Redução 95 – 100% até 99 – 100%

Cercárias                                        Virtual remoção de cercaria de schistosoma

                                                          cistos e ovos

Virus                                                 Virtual completa remoção 
 

Matéria orgânica                            60 – 75% de redução

Ferro e manganês                         Largamente removidos

Metais pesados                              30 – 95% de redução